Moeda Brasil-Argentina: tudo o que você precisa saber

01 de February | 2023

Moeda Brasil-Argentina: essa notícia publicada em janeiro trouxe muita confusão pra população dos dois países. Vem entender na prática o que isso significa!

Por Professor Mira

A forma como o ministro da Fazenda argentino, Sergio Massa, divulgou ao Financial Times a notícia de uma moeda comum acabou tornando a informação um tanto dúbia. Com isso, muita gente entendeu que os dois países passariam por uma troca de moedas

Quero começar explicando a você que isso não vai acontecer. Não haverá uma nova moeda em circulação nos dois países. O Real continuará sendo a moeda vigente no Brasil, e o Peso seguirá como moeda oficial na Argentina.

Quando os ministros da Economia do Brasil e da Argentina falaram em moeda comum, eles estavam se referindo a outra coisa. Então, segue a leitura até o final, pois vou explicar tudinho. 

A primeira coisa que é importante a gente distinguir é o conceito de moeda. Eu sei que até parece meio óbvio, mas, na verdade, a confusão causada pela notícia mostrou que não é tão óbvio assim. 

Quais as funções da moeda?

Para entender melhor o que é a moeda Brasil-Argentina, é importante conhecermos o conceito de moeda. Existem três funções comuns para ela: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Vamos detalhar essa utilização abaixo.

Meio de troca

A moeda é, em sua função primordial, um meio de troca para transações monetárias. Esse é o uso mais comum desse ativo, funcionando como um mecanismo que simplifica as transações comerciais cotidianas

Assim, se você deseja comprar um smartphone que custa R$ 3 mil, você paga este valor ao comerciante e, em troca, recebe o smartphone, certo? Mas, se você tentasse comprar um smartphone pagando com laranjas, obviamente não conseguiria, pois laranjas não são consideradas uma moeda de troca corrente. Para isso, nós temos o dinheiro.

Reserva de valor

Uma segunda função importante das moedas é funcionar como reserva de valor. Elas têm esse fim quando, em vez de utilizá-la para comprar um produto ou serviço, você a investe em algum ativo financeiro para receber em troca juros sobre o dinheiro investido. É reserva de valor porque você está reservando parte do seu capital em um formato que assegure a manutenção do seu poder de compra

Unidade de conta

Acontece que, além dessas duas funções com as quais você já tem familiaridade, a moeda tem uma terceira utilidade muito importante: ela pode ser uma unidade de conta, que é quando algo é utilizado como referência para medir o preço de outros bens

A moeda, como unidade de conta, é um instrumento de regulação monetária que pode ser utilizado em transações comerciais entre países. Ou seja, a unidade de conta possibilita que coisas diferentes sejam comparadas entre si.

Vou dar um exemplo um pouco aleatório, mas que vai facilitar o seu entendimento sobre unidade de valor: suponhamos que você resolva precificar tudo em ações da Itaú (ITSA4). No momento em que escrevo este artigo, ITSA4 está cotada em R$ 8,42. Posso dizer que uma calça jeans que custa R$ 250, vale 30 ITSA4, ou ainda, um quilo de picanha de R$ 84, vale 10 ITSA4. 

Isso não quer dizer que ações sejam habitualmente usadas como unidade de conta, mas quis mostrar que várias coisas podem servir para este fim. Dessa forma, estabelecemos equivalências e, eventualmente, regulamos alguns tipos de relação.

Entendi, Mira! Mas, o que isso tem a ver com a moeda Brasil-Argentina? 

Quando os governos do Brasil e Argentina mencionaram que estão estudando uma forma de ter uma moeda comum, eles estavam se referindo à moeda como unidade de conta

A ideia, caso se viabilize, é ter um instrumento de regulação que possibilite restabelecer os níveis de transações comerciais entre os dois países, sem ter que depender do dólar, que atualmente é atualmente a unidade de conta que precifica todas as transações.

Por que não continuar negociando em dólar com a Argentina?

Para poder garantir o fluxo de negócios internacionais, todos os países precisam ter reservas internacionais, também chamadas de reservas cambiais, em moedas estrangeiras fortes, que funcionam como uma espécie de seguro para que o país consiga garantir suas obrigações comerciais, como importar produtos, pagar juros de dívida externa, regular o câmbio dentro do país, entre outros.

Por ser o dólar uma moeda forte, ele é o que compõe boa parte da reserva cambial na maioria dos países. Ocorre, entretanto, que a Argentina, palco de sucessivas crises econômicas e com uma inflação atual próxima dos 100% ao ano, está sem reservas cambiais, e isso tem dificultado muito a continuidade do fluxo de transações comerciais com o Brasil.

Quando um país fica sem reservas, normalmente o caminho é solicitar empréstimos a órgãos internacionais como BIRD, FMI, entre outros, mas a Argentina está, desde a última moratória em 2020, impedida de solicitar novos empréstimos internacionais. 

Dessa forma, para que o Brasil e Argentina consigam retomar o comércio bilateral que é tão importante ao desenvolvimento econômico dos dois países, a alternativa que vem sendo estudada é essa que estão chamando de “moeda”comum. 

Como funcionaria a moeda Brasil-Argentina?

Como eu disse acima, a moeda Brasil-Argentina não seria usada por todo mundo, mas serviria como um mecanismo de regulação comercial. 

Os dois governos ainda não divulgaram detalhes dos estudos que estão sendo feitos, mas, em linhas gerais, o projeto deve prever a criação de linhas de crédito concedidas por bancos, que teriam como uma espécie de seguro o tesouro nacional, e a precificação da dívida decorrente das transações seria feita por esta unidade de conta comum, assegurando maior estabilidade nos negócios, que não estariam mais sujeitos às fortes oscilações do dólar.

Tudo isso ainda depende de vários estudos a serem realizados pela equipe técnica dos ministérios da Fazenda do Brasil e da Argentina, então, o mais importante a saber por enquanto  é: 

  1. Não haverá moeda única substituindo o Real e o Peso;
  2. Cada país continuará com sua moeda vigente;
  3. O objetivo do estudo sobre a moeda Brasil-Argentina é restabelecer o fluxo de transações comerciais entre os dois países sem que esse comércio seja precificado pelo câmbio do dólar em um momento em que a Argentina não possui reservas em dólar para honrar seus compromissos internacionais;
  4. Moedas usadas como unidade de conta não têm nada a ver com a moeda de troca que você utiliza nas suas compras do dia a dia, seja no Brasil, na Argentina ou em quaisquer outros países. Onde você estiver, continuará comprando produtos com a moeda vigente no local. 

Se você gosta desse tema e deseja saber mais sobre a moeda Brasil-Argentina, mande suas perguntas para a Me Poupe! com #moeda e eu faço um vídeo para explicar pra você, combinado? 

Um abraço

Professor Mira

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