Você não vai vencer a procrastinação, mas pode domá-la

Vencer a procrastinação é, desde sempre, tema recorrente em quaisquer debates sobre realização de sonhos e cumprimento de metas. Acontece que falar em vencer algo que faz parte de nossa constituição é comportar-se como um cãozinho correndo atrás do rabo. 

Então, o que quero te dizer é que assim como você não pretende vencer a fome, a sede ou o sono, também não tem de vencer a procrastinação. O que você precisa é ter domínio sobre o que sente para poder escolher quando irá atender a esse instinto ou não. 

O tempo tá passando e você não está fazendo nada? 

Já estamos no mês de julho e, normalmente, quando ultrapassamos essa barreira psicológica do “meio ano que se foi”, é bem comum que muitos de nós experimente a sensação de não ter feito tudo o que precisava ser feito. 

Você já sentiu que está em atraso quanto a tudo o que tem a fazer? Ou ainda, se vê constantemente em situações em que, ao final de um longo dia, simplesmente não sabe dizer o que fez – mesmo notando que esteve ocupado o tempo todo? 

Pois saiba que esse sentimento é mais comum do que imagina. Um estudo liderado pelo psicólogo e professor Piers Steel, da Universidade de Calgary, avaliou 24 mil pessoas e concluiu que 95% das pessoas adiam o que precisa ser feito, sendo que 25% são procrastinadores crônicos. 

Mas, afinal, por que procrastinamos? 

Segundo Steel, parte do motivo para adiarmos tanto as decisões, tem a ver com o funcionamento do nosso cérebro. Enquanto nosso sistema límbico processa as ações ligadas às emoções e ao prazer imediato, o córtex pré-frontal atua no planejamento de longo prazo. 

Sendo assim, essa batalha entre o “preciso começar agora a investir para o futuro” versus o “só se vive uma vez” tem também um componente neurobiológico que você precisa conhecer para poder controlar. 

Em geral, procrastinamos as tarefas que nos pareçam menos motivadoras, pois o cérebro não apenas valoriza as sensações agradáveis, como privilegia aquelas que, além de agradáveis, exijam o mínimo esforço. Em geral, reagimos aos estímulos do ambiente e, naturalmente, privilegiamos no uso do tempo aqueles mais prazerosos.

Então, eu até entendo que quando eu falo de tarefa motivadora, sua primeira reação seja pensar: “mas Hellen, conquistar minha independência financeira é muito motivador”

Eu sei que é, mas, o prazer imediato de um fim de semana numa casa de veraneio com amigos é mais fácil de obter. Então, inconscientemente, você acaba sendo condescendente: “ok, eu posso deixar para organizar minhas finanças a partir do mês que vem, afinal, já esperei até agora, uns dias a mais não farão diferença”

Quem nunca? 

E há algo de errado nisso? Não tenho como te dizer, pois as prioridades são escolhas pessoais. A minha questão aqui é te mostrar que a procrastinação acontece instintivamente e que é necessário tomar as rédeas desse processo para fazer escolhas conscientes. 

Você pode, inclusive, escolher procrastinar com a organização de suas metas! Desde que você saiba que ao fazer essa escolha, está abrindo mão de várias realizações e esteja bem com isso.

Dá pra controlar a procrastinação?  

É possível controlar a frequência e intensidade com que a procrastinação se manifesta e interfere em sua vida. Então, se o seu eu do futuro anda descontente e te cobrando medidas mais firmes para viabilizar metas, acho que posso te ajudar com algumas dicas: 

1. Faça uma lista das coisas que você vem adiando e coloque em ordem de importância;
2. Defina datas realistas para início e fim de cada uma das tarefas;
3. Quebre as ações mais complexas em subtarefas menores;
4. Coloque tudo na agenda, tal qual você faz com os compromissos; cotidianos que não pode deixar de cumprir;
5. Compartilhe com alguém o seu projeto. Normalmente, quando tornamos público um determinado compromisso, temos mais dificuldade em não o realizar;
6. Crie recompensas. Identifique quais atividades prazerosas têm sido as maiores ladras do seu tempo e passe a utilizá-las como prêmio;

Anda perdendo horas maratonando uma série? Ok, passe a usar os episódios dela como sua recompensa por ter finalizado determinada tarefa do calendário;

Não consegue investir porque os convites para baladas são irrecusáveis? Pense em definir um valor mensal para investimento e sempre que cumprir, dê-se de presente um “vale balada”. 

A questão é simples: a procrastinação é o seu cérebro agindo como uma criança mimada e birrenta que quer algo agora. Então, cuide de sua criança negociando e gamificando os desejos dela com recompensas!

Acolha sua procrastinação 

A procrastinação é algo extremamente humano e meu objetivo não é te fazer sentir culpa. Ao contrário disso, quero que você faça as pazes com o seu processo, acolha essa característica e aprenda a reconhecer quando, como e por que acontece. 

Ao fazer esse exercício continuamente, é bem provável que você comece a perceber que passa mais tempo lamentando não ter feito algo, do que o tempo que levaria fazendo (olha aí a criança birrenta chorando duas horas para não fazer a tarefa de casa, que seria feita em 20 minutos se ela não tivesse ficado na birra 😊). 

Não se trata de vencer a procrastinação, mas sim, de conquistar a autonomia de definir quando ela pode ou não prevalecer. 

A procrastinação é a batalha entre desejos racionais e impulsos. Seu racional quer coisas boas, que durem e lhe garantam um futuro tranquilo, seu lado impulsivo quer coisas que tragam gratificação imediata. 

Se você cede à impulsividade 100% das vezes, isso é procrastinação crônica e, certamente, não te levará  muito longe. Por outro lado, agir 100% na racionalidade, pode não ser duradouro, afinal, não somos máquinas e precisamos de alguns prazeres imediatos.

Sendo assim, vencer a procrastinação é, acima de tudo, entender que ela é uma parte de você. Todos prontos pra encontrar equilíbrio, usar a força de vontade e vencê-la sempre que perceber que ela está predominando e te distanciando de suas metas?